Júlio de Castilhos
quarta-feira

22 de janeiro de 2025

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Quem de nós não se lembra da lição: ilha é um território, uma porção de terra, cercada de água por todos os lados. Pois bem, em nossos dias, onde os meios de comunicação nos oferecem tanto acesso a informação; e a contrassenso, cada vez menos presenças…  Estamos, aos milhões de seres humanos, virando ilha. Muitos contatos virtuais e pouca aproximação física. Somos ilhas. Assustados com tanta informação; recolhemo-nos em nós mesmos. Perdemos a capacidade de expressar sentimentos, especialmente quando isso é presencial. Fenômeno temporal: o acesso ilimitado a informação está eliminando distâncias geográficas, disponibilizando maciçamente conhecimentos científicos, informações técnicas e tecnológicas; porém, criando abismos interpessoais. Já não sabemos mais conversar, e sim “teclar” ou enviar uma mensagem de “áudio”. Aliado a tudo isso temos ainda as questões pessoais e materiais, que criam toda a sorte de distanciamentos.

Assim, somos uma ilha quando ficamos cercados por todos os lados: do preconceito, da indiferença, da ausência e do desamor. Isso ocorre no dia a dia, em tantas situações que poderiam ser elencadas, tais como: a criança na escola, ignorada no seu primeiro dia de aula, quando ninguém quer conversar e nem brincar com ela, a qual, tão acostumada com seus brinquedos eletrônicos ou tão marcada pela falta deles e suas dificuldades pessoais, não consegue viabilizar a comunicação; a pessoa materialmente pobre e sem influência social que ninguém cumprimenta, não dá atenção e que no seu íntimo sente-se “transparente”, pois se alguém o “vê” é apenas para tentar usá-la tirando algum tipo de vantagem, no mais vive apenas na exclusão; o idoso que espera o filho ou familiar no asilo, no domingo, dia de visitas, horas a fio e ele nunca vem, e então esta criatura fica se “equilibrando” entre uma esperança fantasiosa de que seu familiar está muito ocupado, mas que um dia virá, e uma certeza que causa uma dor cortante, de que está esquecido, porque não tem mais qualquer utilidade.

Da mesma maneira, também os sentimentos, tudo que vai se desprendendo em nós, rodeado de tudo que já mataram na gente, de emoções e de falta de razões, não deixa de ser uma ilha. E assim, cercados desse oceano de indiferença, os que podem recorrem ao acesso tecnológico para se sentir pertencentes a uma comunidade, os que não podem, amargam a sua condição de ilha… Diante de tudo isso, fica o desejo de que possamos buscar forças, sabedoria e inteligência; mas, sobretudo humanismo, para voltar a nos aproximarmos e quem sabe até nos unirmos ao “continente” da vida, das relações humanas, sociais e interpessoais. Deixarmos a condição de “ilha” e passarmos a ser parte que integra e interage, na relação com o próximo e conosco mesmo. Enfim, que sejamos mais gente do que máquinas “conectadas”; pois, assim seremos certamente bem mais felizes…”

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