Nessa quarta-feira (23), por volta das 23h45, horário de Brasília, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou a autorização de uma ampla operação militar para invadir a Ucrânia, começando por Donbas, no leste do país. Em seu pronunciamento, ameaçou nações que queiram intervir na ação militar.
“Quem tentar interferir, ou ainda mais, criar ameaças para o nosso país e nosso povo, deve saber que a resposta da Rússia será imediata e levará a consequências como nunca antes experimentado na história”, disse Putin. O Presidente russo afirmou que os ataques eram inevitáveis, uma questão de tempo. O objetivo da invasão era a “desmilitarização e desnazificação” da Ucrânia.
Logo após o discurso de Putin, começaram os primeiros relatos de explosões em Kiev, capital da Ucrânia, em Khariv, Maripuol, Odessa, Kramatorsk e outras cidades. Ao todo, são cerca de 16 regiões que estão sendo atacadas.
Nas redes sociais, a madrugada iniciou com uma grande circulação de vídeos dos momentos das explosões, representando o maior ataque de um Estado contra outro na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky anunciou o rompimento das relações diplomáticas com a Rússia, e adotou a lei marcial no país e pediu para que os cidadãos tenham calma.
“Estamos introduzindo a lei marcial em todo o território do nosso país. Há um minuto, tive uma conversa com o presidente Biden. Os EUA já começaram a unir o apoio internacional. Hoje cada um de vocês deve manter a calma. Fique em casa se puder. Nós estamos trabalhando. O exército está trabalhando. Todo o setor de defesa e segurança está funcionando. Sem pânico. Nós somos fortes. Estamos prontos para tudo. Vamos vencer todos porque somos a Ucrânia” disse em pronunciamento.
Ainda que o presidente tenha pedido que as pessoas ficassem em casa, filas se formaram em supermercados, postos de gasolina e caixas eletrônicos. No trânsito, longas filas de carros se formaram na tentativa de sair da capital.
O espaço aéreo do país foi fechado e os cidadãos começaram a utilizar as estações de metrô como abrigo para se protegerem das bombas. As estações estão sendo utilizadas como os chamados bunkers, que são abrigos antiaéreos construídos no período da Guerra Fria, quando a Ucrânia era parte da extinta União Soviética.
Segundo informações divulgadas pela CNN, ainda sem dados oficiais, as autoridades ucranianas dizem que pelo menos 50 russos e 40 soldados ucranianos morreram, e seis aviões foram abatidos no leste da Ucrânia.
Entenda o motivo do conflito
Em 1991, quando os lideres Rússia, Ucrânia e Bielorrússia decidiram pela dissolução da União Soviética, os países que faziam parte passaram a se associar à Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), como a Lituânia, Letônia, Estônia e também a Ucrânia, que manifesta interesse na organização.
No entanto, a Ucrânia faz divisa com a Rússia e é um antigo pedaço do país – o que faz com que Vladimir Putin, presidente russo, não considere a Ucrânia como um Estado soberano e sim como uma parte do seu país. A intenção de Vladimir é voltar a ter influência sobre a região, e redesenhar as fronteiras geopolíticas da era Soviética.
Putin alega que a participação da Ucrânia na Otan seria uma ameaça existencial para a Rússia, prejudicando-a. O motivo dessa ameaça é porque a Ucrânia é localizada em uma região onde existem armas nucleares, onde ficam as bases de mísseis da Otan.
Em comunicado oficial da Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, condenou a decisão de Putin.
“O presidente Putin escolheu uma guerra premeditada que trará uma perda catastrófica de vidas e sofrimento humano. A Rússia sozinha é responsável pela morte e destruição que este ataque trará, e os Estados Unidos e seus aliados e parceiros responderão de forma unida e decisiva. O mundo responsabilizará a Rússia” disse Biden. O presidente americano disse que se reuniria com os colegas do G7 e que novas sanções à Rússia serão anunciadas.
Quais os impactos desse conflito para o Brasil?
Segundo informações da BBC News Brasil, o conflito entre Rússia e Ucrânia pode prejudicar a economia nacional provocando um aumento na inflação e nos preços de petróleo e seus derivados, pois a Rússia é o terceiro maior produtor e segundo maior exportador.
A crise política pode acarretar ainda na importação de fertilizantes e insumos agrícolas para o Brasil. Os produtos, hoje, estão no topo da lista de importações da Rússia, o que pode prejudicar o setor agrícola brasileiro. Segundo o coordenador do Índice de Preços ao Consumir do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), André Braz, a inflação no Brasil poderá ficar pressionada e vai impactar, além dos custos dos combustíveis, o valor dos alimentos e o gás de cozinha.
“O diesel mais caro também encarece custos de empresas e dos transportes. E o gás de cozinha, que deve sofrer reajustes, eleva custos de empresas além de afetar o orçamento das famílias, em especial das mais carentes. Como o agronegócio também é afetado por causa de fertilizantes mais caros, os alimentos também passam a subir de preço”, disse o coordenador.