Fazia tempo que isso não acontecia: Sabe aquela sensação de que todo mundo esqueceu e abandonou você. Você relegado ao ostracismo? Um total desconforto. Me senti sozinho em uma tarde em que há pouco eu me via cercado de milhares, e porque não dizer milhões ou bilhões de outros seres (amigos ou sei lá o que). Mas depois bateu a frustação. Sabe o sentimento de impotência, de não poder fazer nada além de esperar. Eu voltava, fuçava, tentava atualizar, mas tudo continuava inerte e paralisado. Me senti o mais alienado dos seres, alheado e decepcionado.
E de repente eu estava desinformado: Quem morreu? Quem nasceu? Quem adoeceu? Quem melhorou? Quem fez plástica ou redução do estômago, quem passou em um curso, se formou, se casou, separou, está namorando sério? E me senti órfão das informações: Como rir do pseudocientista, do falso cordato, da bondosa de ocasião e das fakes? Como gargalhar diante dos erros crassos de grafia, concordância e de pontuação?
Não pude parabenizar aquele que a agenda me lembra. Não pude, reservadamente, ver e não ser visto. Não pude me entulhar dos milhares de anúncios que buscam secretamente através dos algoritmos meus desejos, anseios e expectativas e até frustações.
Mas sujeito da era da instantaneidade aguardei 1 minuto, 5 minutos, meia hora, duas horas e infindáveis e eternas oito horas. Enquanto isso joguei paciência; tentei ligar para um amigo que há muito não falava; parei para falar com minha filha; afaguei e brinquei com os cachorros; revi uns planos antigos de reforma da casa; atualizei meu currículo e ainda assisti um filme que estava na lista de espera há muito tempo. Ainda sobrou tempo para um ócio criativo, no escuro do quarto, olhos fechados e sem os bipes, “trins trins” e vibrações do aparelho. Mas inquieto, olhava para aquele objeto retangular mudo e inerte, quase morto no criado-mudo.
Foto da academia, prato de comida, paisagem linda, diploma, vovó no hospital, foto do cachorrinho, promoção da pizzaria, da casa de móveis, do lanche do X, do inaceitável e do inacreditável, não estavam lá. Madeixas e tudo mais. Não estavam lá. Memes não estavam lá.
Por poucas horas me vi de volta ao tempo do telefone de tecla (mas ele não existe mais), ao rádio de pilha (mas ele não estava lá), da televisão de tubo (mas ele já se extinguiu). Ao fim e ao cabo, eis-me de volta ao presente.
Mas qual: quando parecia que eu já me adaptava aos tempos em que as mensagens eram ditas tête-à-tête e as informações (de fato) eram mais lerdas e seguras, eis que a realidade volta à tona. Meu leite com chocolate ficou pela metade. Meu filme teve que ser interrompido. Minha fleuma teve que dar lugar ao frenesi de responder as mensagens do aplicativo e meu mundo voltou ao “normal”. As preocupações voltaram. As tarefas voltaram. A ânsia de saber voltou. E a roda da vida, nervosa, voltou a girar, como é de costume nesses tempos tresloucados.
PS: Como pesquisador, e cético, continuo não acreditando na inviolabilidade e na confiabilidade dos meios digitais. Se uma corporação perde 42 bilhões de dólares em um BUG, ela quis, de fato, ser incompetente ou falha? Me ajudem os universitários (com conhecimento em Tecnologia da Informação)!