No início do mês de agosto, a ONU – Organização das Nações Unidas publicou um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC em inglês), concluindo que a temperatura global pode subir de 1,5°C a 2°C neste século. O aumento se dará caso não seja realizada a redução nas emissões dos gases de efeito estufa.
O relatório, com quase mil páginas de extensão, que representam anos de estudos e desenvolvimentos, apresenta a crise climática e projeta as consequências dos impactos ambientais para o planeta nas próximas décadas.
O documento explica que a ação humana na natureza, provocando mudanças climáticas induzidas pelo comportamento humano, influenciam em eventos climáticos extremos em todas as regiões do mundo.
Como as variações imprevisíveis do clima afetam o setor produtivo de alimentos?
Trazendo preocupações a nível global com a ocorrência de ondas de calor, secas prolongadas e tempestades, as variações imprevisíveis do clima podem ameaçar setores essenciais como a produção de alimentos.
No Brasil, especialistas discutiram a preocupação em matéria para o site G1, abordando a ocorrência dos fenômenos climáticos e a interferência no desenvolvimento de plantas, enchimento de grãos e qualidade das pastagens e culturas.
No setor produtivo, as culturas exigem que seja feito um planejamento considerando o clima específico para o desenvolvimento correto da planta. Porém, com as variações climáticas extremas, o planejamento pode ser prejudicado em decorrência da imprevisibilidade.
Um dos especialistas consultados pelo G1, o economista sênior do World Resource Institute (WRI) Brasil Rafael Barbieri, explica que, caso haja uma redução na produção, o preço dos alimentos pode aumentar. Segundo Barbieri, os eventos climáticos extremos chegam a ser responsáveis por até 35% das oscilações de preços agrícolas.
– Cerca de 30% da produtividade dos alimentos é explicada pela variação climática. Os outros 70% são explicados por insumos, fertilizantes, genética, práticas agrícolas. Ou seja, quando você tem um problema de clima, a sua produtividade cai, não importa o quanto você investiu em tecnologia – destaca Rafael na pesquisa.
Nesta quinta-feira (19), o Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada divulgou a análise trimestral de preços e mercados agropecuários, acompanhando até o mês de julho de 2021 os preços domésticos e internacionais, abrangendo a oferta e demanda dos principais produtos do setor referentes à safra 2020-2021.
O Instituto atribui os problemas climáticos como fator decisivo no aumento dos preços de commodities, trazendo as taxas de crescimento no preço doméstico dos produtos. Segundo o Ipea, em comparação do primeiro semestre de 2021 com 2020, a soja teve alta de 78%, milho 77%, trigo 40% e arroz 55%.
Segundo o economista Rafael, o clima é o fator menos controlável em uma produção.
– A gente já sabe que existe um risco natural e inerente a ele. Mas se a gente muda o clima, a gente perde toda a capacidade de planejar a produção – diz o economista.
As mudanças climáticas, efeitos das alterações provocadas pelo efeito estufa, podem deslocar a sazonalidade. Isto é, pode prolongar os períodos de seca, como também provocar chuvas mais fortes no período das precipitações.
Segundo o G1, a perda da previsibilidade na sazonalidade climática é um risco para a economia. Um dos indicativos de que os produtores de alimentos no Brasil já vem enfrentando desafios é o aumento nas contratações de seguro rural, o qual possibilita um financiamento que assiste o agricultor das perdas causadas pela ação climática. Em 2020, a área segurada no Brasil alcançou o recorde de 13,7 milhões, um aumento de aproximadamente 98% em relação ao ano anterior.
De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas em documento divulgado pela ONU, ainda existe possibilidade de limitar as mudanças do clima se fossem reduzidas as emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa.
Segundo o Painel, um ponto de preocupação imediata é a possibilidade do aquecimento global, previsto para até 2ºC, ser extrapolado antes do fim do século, o que torna ainda mais urgente que as medidas de redução dos efeitos -quase irreversíveis- das mudanças climáticas sejam implementadas.