Será premonição ou pura indução? Mas antes de entrar no assunto, propriamente, dito, convém dizer que sou um daqueles apaixonados pela ficção científica. Não aquela fantasiosa, sequer a impossível, mas tão somente aquela que faz refletir sobre um provável futuro da humanidade. Zumbi, até que vai, desde que relacionado a um porvir que envolva contaminações biológicas e experimentos nada éticos (como prolongar a vida a qualquer custo – os filmes de vampiros são o extremo – ou até mesmo querer uma imortalidade).
Mas como dizia, me encanta e me seduz as estórias (escritas, filmadas, contadas, etc) que brincam com a ficção, sobretudo a questão temporal. Viagem no tempo, diferentes escalas de considerar o tempo e o espaço, viagens interplanetárias e intergalácticas. Do infanto-juvenil “De volta para o futuro” até o espetacular “E se eu não tivesse te conhecido?” Mas ficção também se faz com o “Parque dos Dinossauros” – manipulação genética em animais – ou com “Gattaca”, “Splice” ou “A ilha”. Tem “Projeto almanaque” ou “Cópias”. “Onde está segunda”, “Passageiros”, “Distrito 9”, “Bird Box”, “Outra vida”, “The 100”, “Biohackers”, são mais exemplos de ficções com as mais variadas temáticas.
Enfim, poderia usar 20 ou 30 laudas para falar sobre obras de ficção (e aqui não posso esquecer o “Homem bicentenário” e o “Show de Truman” – clássicos – tanto quanto o “Planeta dos Macacos” e “Depois da Terra”. Mas gostaria de debater se os ficcionistas são pessoas que veem o futuro, ou simplesmente, criam um cenário possível que induz à humanidade a caminhar naquele sentido. “Blade Runner” (1982) sugeriu. “Water world” (1995) especulou. “Admirável mundo novo” (1998) estaria induzindo?
Vendo “Os doze macacos” (1996) ou “Epidemia” (1995), não sei dizer se os roteiristas previram o que aconteceria na atualidade ou deram a ideia para que uma pandemia quase que incontrolável (afinal quase dois anos depois e infindáveis vacinas ainda estamos suscetíveis à morte pelos vírus) viesse a ocorrer. Mas não quero discutir terapêuticas, medidas preventivas ou profiláticas, protocolos ou crenças cegas em políticas, religiões ou pseudociência. Negacionistas, positivistas, sensacionalistas ou realistas, me desculpem.
Neste espaço quero expor, apenas, o meu ponto de vista e a minha opinião sobre a ficção. Assim, creio que a ficção seja além de uma previsão também uma indução, ou seja: quem escreve sobre o futuro imagina o que pode acontecer, mas ao mesmo tempo, quer que aquilo ocorra mediante as circunstâncias atuais. Quem assistiu “O quinto elemento” pode ver que os artistas da película são seres esdrúxulos, fúteis, mimados pela mídia, estravagantes, luxuriosos e tantos outros predicados pouco significativos (além de ricaços). Mas a ficção criada em 1997 se passa no século XXIII (2201 em diante). E nossos ‘artistas’ atuais para qual o rumo derivam? A questão do talento se esvai diante da imagem falsa forjada pelas tecnologias. Para a autopromoção conta mais o que se aparenta do que se é. Manchetes de tatuagens, relacionamentos e outras futilidades têm mais importância do que a questão técnica e profissional. Mas, perdoem, isso é filosofia de Erich Fromm e não é ficção. Isso é apenas percepção.
“Lucy”, “Eu, Robô”, “Minority report”, “Efeito borboleta”, “Máquina do tempo”, “Interestelar”, “Dèjàvu”, “O homem do futuro”, “A chegada”, “Em algum lugar do passado”, “Questão de tempo”, “No limite do amanhã” são algumas sugestões para que não sejamos tão pessimistas com relação ao passado e tampouco otimistas em relação ao futuro, mas que podem dar uma noção sóbria sobre o hoje. A propósito: “Black Mirror” continua a ser uma série futurista e ficcional atual. Realismo e crítica frente às novas tecnologias. Não quero ser o único a crer que o futuro está na ficção, ainda que pouco!