O pessoal aqui de Júlio sempre foi muito getulista. Vou contar quem era o Getúlio Vargas naquele tempo. Aí está o Presidente quando viajava em um carro especial da Viação Férrea. Eu acho que todo mundo sabe quem foi Getúlio Vargas. Por via das dúvidas, eu vou explicar para os mais moços: Ele era um advogado de São Borja e um político brasileiro muito importante. Foi líder civil da Revolução de 30, que pôs fim à chamada República Velha. Os gaúchos gostavam muito dele. Tanto que pelearam por ele indo até o Rio de Janeiro. Contam que chegaram a atar os cavalos lá num obelisco do Rio. Esperando pra entrar na briga e impedir que o presidente eleito tomasse posse em março de 1930. Era a famosa Revolução de 30.
Aqui em Júlio, o pessoal mais valente já embarcava nesses trens de força até sem uniforme. O Seu Wilson Campos foi um deles que se enfiou num trem, escondido, só com a roupa do corpo, a cara e a coragem. Aí nessa foto ele aparece no meio, já em São Paulo. Vejam a pinta deles: um de bota, Seu Wilson de sapato e o outro de perneira que era uma espécie de capa de couro para a botina!
Enquanto isso, aqui na Vila começou a chegar gente, mais de mil homens prontos para a peleia. Era uma honra para eles acompanharem o Getúlio nessa guerra e honrarem o nome do Rio Grande. O Dr. Viriato Dutra, que era amigo pessoal do Getúlio, foi lá para a atual Praça Manoel Alvrenga e fez um discurso inflamado convocando o pessoal. Desses voluntários que atenderam o chamamento, foram formados dois Corpos Auxiliares. Um comandado pelo Seu Henrique e outro pelo Seu Tidinho. Eles faziam parte da 6ª Brigada Provisória de Cavalaria que era comandada pelo Seu Marcial Terra, lá de Tupan. Vejam ai na foto debaixo, no centro, o Marcial Terra e à direita, com espada, o Cel. Henrique e o Cel. Tidinho. Mas faltava de tudo na ocasião: armas, fardamentos, botas. Os caras já estavam sem paciência para esperar e começou a reinar a indisciplina. Muitos pegavam um trem e iam pra frente mesmo sem comandante. Até que chegaram fardamentos e eles começaram a se preparar para combater lá nos campos da Cooperativa. Quando a tropa tava em excelente estado, chegou um “triste” telegrama dizendo que Washington Luiz tinha sido derrubado. Era o fim da Revolução.
O Getúlio ficou como presidente-ditador de 30 a 45 depois do golpe. Era o Estado Novo. Em 1951 ele foi eleito pelo povo. “Bota o retrato do Velho, negão, bota no mesmo lugar. O retrato do velhinho faz a gente trabalhar!” — era a propaganda pelo rádio. Ficou como presidente por três anos e meio, até o 28 de agosto de 54 quando se suicidou.
O Dr. Viriato foi um grande amigo dele. Eu tenho em meu acervo, o cartão-de-visita em que ele agradece as felicitações que ele mandou para o Getúlio quando ele fez 31 anos. É um cartãozinho pequeno onde Getúlio colocou três ditados daquela época. O cartão diz: “Viriato, Agradeço as felicitações que me enviaste. Pelas notícias que tenho daí, se não são mais as vozes do que as nozes, a oposição fará água pela barba. Mas em obra grossa um metro não é diferença. Abraça-te o amigo Getúlio Vargas”.
