Rancor é mágoa reprimida que envenena, não a quem é objeto desse sentimento, mas sim quem o alimenta e mantém em seu coração. É um forte ressentimento que se traduz num ódio profundo, por vezes não expresso, mas que quase sempre serve para demonstrar o fracasso e as frustrações do rancoroso. Este sentimento altamente negativo, no entanto, tem uma grande aceitação na sociedade atual e, de certa maneira, é até incentivado pelos comportamentos massificados de quem gosta de ver sangue… Ou seja: reza pela cartilha do “quanto pior melhor” e se diverte ou se realiza vendo os enfrentamentos, quase sempre desnecessários e prejudiciais, entre as pessoas e até mesmo entre as instituições.
Vivemos um tempo em que é preciso ter lado; mas, isto no sentido de poder, e sendo de um lado diabolizar o outro. Isto é: quem é de direita vê os de esquerda como entes do mal, e vice versa. Há total intolerância e não se aceita as diferenças, por isso muitos querem, de forma consciente, estimulada ou não, que os outros pensem e ajam da maneira que entendem correta. E os que ousam pensar, ser e agir de maneira diferente do esperado ou mesmo exigido, são banidos de qualquer aceitabiliade. São do mal, e os que se consideram sempre certos, são do bem… É a sociedade do ódio, da mentira, da calúnia, da difamação. Há uma total ausência de humanidade nesse tipo de comportamento. Não estou aqui a defender este ou aquele, mas simplesmente questionando: será que rancor, ódio, intolerância e não aceitação das diferenças nos levam a alguma solução positiva para nossos problemas sociais ou servem apenas para agravá-los?
Talvez seja preciso entendermos que aquele que muito ataca o outro, na maioria das vezes está expondo a sua pópria fragilidade, passando um atestado de frustração e demonstrando de inveja, e que na verdade gostaria de ser o que ele é ou fazer o que ele faz, e, como falta coragem ou competência descarrega as suas frustrações nas críticas e agressões, muitas vezes infundadas. Que possamos ser mais construtivos na forma de pensar e agir; que tenhamos ideias discordantes e possamos debatê-las, pois ísso é bom e nos leva ao crescimento; mas que também possamos ter mais tolerãncia e aceitação das diferenças, pois é a partir delas que podemos crescer e avançar enquanto sociedade: plural e heterogênea.