Há quem diga que a culpa foi da guria (La Niña), outros do guri (El Niño), mas o fato é que nos últimos dias o calor está de tirar o fôlego (no sentido literal e figurado). Uma coisa notável e interessante é que mal acordarmos (depois de uma noite desagradável de temperatura alta) e ao assistir a previsão do tempo (que nem sempre é favorável) já estamos suando. Vai chover e refrescar? Vai ter um ventinho agradável? Pelo menos vai dar para dormir com um lençol por cima e sem a companhia desagradável dos pernilongos? Qual nada! O Inferno de Dante é fichinha! E haja meios para sobreviver ao forno alegre do sul! (e eu que acreditei que abaixo dos Trópicos a temperatura era temperada).
Houve uma época em que expressões como “Fritar um ovo no asfalto”, ou “colar a Havaiana no betume” ou ainda “calor do cão” eram comuns. Hoje usa-se outros termos, mas o calor é o mesmo ou pior. Mas o tempo passou e hoje nem sei o que seria compatível com a sensação odienta de suar aos borbotões, ter a roupa embebecida e colada ao corpo e, sobretudo, de ter a sensação de que 20000 litros de água são insuficientes para saciar a sede (sobretudo para quem sua em abundância feito eu).
Parece que tem um Sol para cada um, tal qual o ardor e abafamento. Refúgio? Não sei se terei a resposta, mas arrisco a dizer usando a experiência:
Ar-condicionado (para quem pode e tem a capacidade do gasto financeiro da conta salgada). Ventilador de teto e de chão (sem a potência do AC mas com o poder de aumentar seu débito com a fornecedora e energia) ou simplesmente movimentar o ar quente. Abanador e leque (para os antigos e reumáticos feito eu: não surte efeito (é um engano psicológico, mas no bom gauchês é pólvora à toa em chimango). Piscina (pague água e luz), banho de chuveiro e de mangueira (a companhia de água agradece o consumo – embora já se fale em racionamento), banho de tanque e de bacia com água. Riacho, açude, cachoeira, rio (com direito a muriçoca, mutuca, mosca, mosquito, sanguessuga, formiga, polvinha). Picolé e sorvete (no preço que estão), chupar gelo (sem graça e sem a noção de saciedade). Roupa cavada, tirar a camisa, ficar de cueca, de short e sutiã (nem nu o calor passa). Deitar no chão, no corredor com vento (que não corre), janela aberta (não estaria fechada?) Tomar água gelada, cerveja, chimarrão, suco? E a sombra da árvore? Do prédio? Da casa? Da área? Do alpendre? Do oitão?
Chuvinha que arrefece e baixa a temperatura tá mais cara que político honesto! De vem em quando vem, mas se vê abafada pela massa de ar predominante.
Fatalmente o calor atingiu a todos, mas como diria o poeta, ‘Deus dá o frio conforme o cobertor’! Ou seria ao contrário? O fato é que tanto no frio quanto no calor os menos desprovidos sofrem mais. Mas quando necessitamos sair do paraíso de uma temperatura agradável do nosso carro ou da nossa casa (ou do banco, ou da imobiliária) e enfrentar a realidade das ruas e do ambiente é que sentimos que somos todos iguais. Não há dinheiro que nos iguale, afinal o calor é para todos: Democraticamente.
Allah-la-ô, ô ô ô ô ô ô. Mas que calor, ô ô ô ô ô ô. Atravessamos o deserto do Saara. O Sol estava quente, queimou a nossa cara. Allah-la-ô, ô ô ô ô ô ô. Mas que calor, ô ô ô ô ô ô.
Haja água para esse calor! Haja calor para tanta água gelada! Enquanto isso durante estas festas de fim-de-ano estou preocupado, muito mais, com que eu como e bebo entre o Ano-novo e o Natal do que entre o Natal e o Ano-novo. Mas apenas relembrando: Haja calor! Allah-la-ô!