Nessa terça-feira (28), duas freiras que trabalhavam no Lar das Vovozinhas, no município de Santa Maria, foram indiciadas pela Polícia Civil por suposta prática de maus-tratos, racismo e tortura entre 2018 e 2019. As freiras fazem parte da Congregação Filhas de Santa Maria da Providência, com sede em Porto Alegre.
As denúncias
No mês de junho de 2019, as denúncias de maus-tratos começaram a chegar ao Ministério Público, quando o promotor Fernando Chequim Barros abriu um inquérito civil. O que motivou o afastamento definitivo das religiosas no Lar das Vovozinhas foram dezenas de testemunhas ouvidas pelo promotor.
Funcionários de limpeza, técnicos em enfermagem, enfermeiros, assistentes sociais, médicos e dirigentes puderam dar seus depoimentos. Antes que as funcionárias fossem afastadas, a direção do Lar havia determinado suspensão temporária das freiras por meio de sindicância interna.
Os crimes cometidos pelas freiras
Segundo apuração da GZH, sem que a polícia houvesse divulgado os nomes das religiosas, se tratam de Terezinha Benetti, 76 anos, e Marli do Carmo Pena, de 59. Ambas trabalharam no Lar das Vovozinhas até agosto de 2019, momento em que foram afastadas definitivamente após a atuação do Ministério Público. Irmã Marli era contratada com uma carga horária de 40h semanais. Já Irmã Terezinha atuava no Lar por conta de um convênio da Congregação com o Lar das Vovozinhas.
Terezinha Benetti foi indiciada por dois crimes: tortura e racismo. De acordo com a Polícia Civil, os casos aconteceram entre 2018 e 2019 quando a religiosa teria supostamente impedido que uma idosa atendida pelo Lar, de 86 anos na época, participasse de um evento.
Terezinha havia insultado a idosa com palavras de cunho racista, e teria praticado tortura com outra idosa a deixando sem vestimentas trancada em um quarto por mais de 1hr. As informações foram confirmadas em depoimento das vítimas e também de familiares. Além dos relatos acima, a irmã Terezinha teria também racionado o uso de produtos de higiene para as idosas, como sabonete e xampu.
O indiciamento de maus-tratos também é dirigido à freira Marli, a qual, de acordo com as investigações da Polícia Civil, teria realizado suturas em feridas de uma idosa de 80 anos, sem anestesia e não permitindo que a idosa fosse levada ao atendimento médico.
Segundo a GZH, o procedimento das suturas não era indicado. Marli teria também realizado um procedimento de forma inadequada com uma idosa de 93 anos ao limpar uma ferida interna, introduzindo uma pinça no ferimento e causando dor e sangramento.
A defesa das irmãs
As freiras negaram todas as acusações em depoimentos do inquérito civil do Ministério Público. De acordo com as informações da matéria oficial, irmã Terezinha foi intimada a prestar novo depoimento, onde realizou em uma delegacia em Capão da Canoa onde mora atualmente e trabalha em uma instituição de caridade. A religiosa, no entanto, não declarou nada, afirmando que já havia falado tudo ao promotor na cidade de Santa Maria. A irmã Marli, por conta da sua residência em Manaus, não foi inquirida para novo depoimento.
Para a GZH, o advogado das religiosas, Daniel Tonetto, disse que o durante o processo criminal será provado a inocência das indiciadas.
Medidas tomadas pelo Lar das Vovozinhas
Após um pedido de afastamento temporário e outro definitivo das religiosas de suas funções no Lar das Vovozinhas, a Vice-presidente da instituição, Liliane Mello, disse à GZH que a direção tomou as medidas cabíveis.
“Na época que o fato aconteceu, foi aberta sindicância e a documentação foi encaminhada ao Ministério Público. Como não estava no lar à época, não posso comentar mais do que isso. Agora há todos os trâmites desse processo. Hoje, temos um trabalho contínuo de treinamentos com a equipe. Também sempre buscamos identificar a existência de fatos a partir de qualquer tipo de relato”.
