Júlio de Castilhos
quarta-feira

22 de janeiro de 2025

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Do dicionário de expressões tiro a seguinte: “Beber na fonte” significa “absorver intelectualmente as influências de alguém que tenha mais conhecimento, mais talento”. Então beber na fonte é livrar-se dos intermediários. Diz-se, também, que todas as notícias têm uma fonte, e quanto mais diretamente ligada ao fato, mais confiabilidade ele transmite. É claro que não é regra geral. Mas para quem brincou de telefone sem fio sabe o quanto uma informação é deturpada ao longo do percurso da difusão. Então nem sempre a fonte pode ser “limpa”. Vide muitas nascentes ou “olhos de água” que brotam do solo, mas que nem sempre são inodoras, insípidas e incolores, ou seja potáveis. Sobretudo no mundo da informação há tendências que acabam por distorcer o fato inicial ou dar uma visão agradável ao formador de opinião. É como dizer que a cacimba, embora turva, é própria para o consumo. Então beber da fonte, neste caso, não é salutar.

Nas pesquisas acadêmicas, ditas científicas, a fonte é tudo. É da base de dados, profunda, acreditável e respeitosa que se faz o resgate do Estado da Arte ou da revisão bibliográfica. Assim, as fontes são alicerce e crédito para uma investigação séria e responsável. Fontes duvidáveis ou extremamente radicais são desconfiáveis. Fontes sem méritos devem ser refutadas e rejeitadas.

Mas e como andam as fontes que fundamentam toda e qualquer afirmação nas redes sociais, imprensa, opinião pública? Mesmo a fofoca (que nada mais é do que deixar de segredar uma verdade oculta) está em descrédito. Um comunicador dizia: “Eu aumento, mas não invento”. Talvez aí esteja o cerne da fofoca e da fonte. A fonte trouxe à tona a informação. A fofoca amplificou a repercussão da informação acrescentando elementos verossímeis ou inverossímeis.

Então como resultado de fontes questionáveis, tendenciosas, comprometidas, emergem as chamadas “Fake News”. As notícias falsas são um resultado absurdo da confiança absoluta sem a verificação da fonte. E no pior dos casos as fakes modelam a opinião e dela vem os julgamentos sumários e inconsequentes. Se alguém for condenado publicamente (sem direito a defesa), corre o risco de ser banido para sempre do convívio das redes e da sociedade (vitória soberana do falso).

Mas a evolução das fake (sim elas evoluíram!) é o desmentido da fake, que é desmentida. Exemplificando para ficar mais didático: Fake 1: “João morreu!” Fake 2: “João não morreu. Ele passa bem e foi visto na praia.” Fake 3: “João morreu, eis a certidão de óbito.” Fato: João não morreu porque não existe. A foto da praia foi criada e editada assim como a certidão de óbito. Mas enfim milhares estão a se antagonizar pela morte ou não-morte de João e na esteira vem os cancelamentos, amizades desfeitas, saída de grupo, exclusão de perfil.

Tempos difíceis em que a democratização da informação parecia ser a redenção e a libertação das amarras do obscurantismo e da alienação. Tempos críticos em que uma imagem forjada e filtrada passa ser a referência e o ideal. Tempos complexos onde o medo, a incerteza e a censura andam de mão dadas a passear no parque do pode tudo porque o soberano da conta assim quer.

Quero beber da fonte possível ou do imaginável da leveza, da retidão, da honestidade. Quero beber com amigos de carne e osso. Quero beber da fonte da empatia e da consequência. Quero beber da sensatez e da sabedoria. E me afogar na alegria. Me embebedar de amor e de paixão, sem rancor e sem notícias falsas e maledicentes. Desta fonte beberei!

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