Existem muitas formas de se identificar a procedência das pessoas. Óbvio que o caminho mais curto é perguntar de onde ela é. Mas existem outras formas: seja pela língua, pelo sotaque e pelos vocábulos utilizados, seja pela forma de agir e de se vestir. Tudo isso é caminho. Por exemplo: Quem usa os termos bergamota, sinaleira, trevo ou “cacetinho”? Também tem o tom da voz. Tem gente que fala pronunciando bem as sílabas e pronunciando o E, o TE quase cantando e quase gritando. Tem gente que canta a beleza da terra, o gosto e o orgulho de ter nascido no torrão.
Em nosso país é fácil identificar um gaúcho em outras plagas. Quase sempre é um sujeito com gestos largos, expansivo, amigável e receptivo. Mas essas características não são exclusividade nossa. E o que dizer da indumentária? É claro que dificilmente se verá um gaúcho em Ipanema de bombacha ou em Recife com guaiaca e faca na cintura, mas o uso de calça comprida em determinadas situações é quase uma marca. Carioca, baiano ou Amazonense (entre outros) preferem a bermuda (e até a sunga) para fazer coisas impensáveis para nós como buscar o filho na escola em traje de banho ou ir ao trabalho de calção. Mas apenas um, entre os 27 cidadãos nacionais, sai com um casaquinho debaixo do braço, haja o tempo que houver.
Mas tem outras coisas que chamam a atenção entre nós (principalmente quando não estamos na terrinha): O inseparável chimarrão. Há casos de complicações e de atritos em aeroportos, estabelecimentos comerciais e mesmo em pontos turísticos. Como explicar que bomba é apenas um instrumento para sorver de uma bebida quente e amarga e erva é apenas um insumo inocente. Mas difícil mesmo é explicar que o chimarrão refresca com quase 40 graus e não queima a língua.
Gaúcho que se preza nunca perde a oportunidade de comparar o que vê, sente ou come com o que tem à disposição no Rio Grande. A praia é linda, mas o açude da chácara é maravilhoso. O Acarajé é gostoso e diferente, mas nada se compara a uma costela gorda assada na brasa. As mulheres são lindas, mas a prenda gaúcha é “lindaça”. Aliás, os superlativos são outra característica fundamental em nosso inconsciente coletivo. Tudo no Rio Grande é maior! Aliás é gigantesco. Sem dúvida é sem tamanho!
Mas incomparável mesmo é a questão do tempo meteorológico. Quer saber se uma pessoa é gaúcha deixe-a falar e em menos de minuto ela estará a dizer: Mas bah que “friozito”. “Eita”, o Minuano está trincando. Mas que calorão, “tchê”. Ainda bem que eu coloquei uma campeira, tá refrescando. Parece que vai chover: minhas juntas estão doendo. Amanhã vai dar geada, olha só o céu. Mas aqui até que não chove tanto como em Júlio de Castilhos. Vai dar para dormir na varanda de tão fresquinho que tá. Pela ventania acho que dá chuva guasqueada. Acho que com esse frio só um chimarrão. Acho que com esse calor só um chimarrão. Acho que com esse tempo só um chimarrão. Acho que o tempo tá bom, vou tomar um chimarrão!
Sem questionamento nós gaúchos temos um não sei o quê com o tempo. Deve ser pelo fato do nosso território ser tão suscetível a mudanças bruscas e extremas tão severas, ou ainda pelo fato de em um período de 24 horas experimentarmos as quatro estações do ano. Na dúvida e como prevenção (essa uma outra marcante do gaúcho) sempre saí de casa com uma camisa de manga curta. Na mochila um cachecol e um sobretudo. Na mão um guarda-chuva. Será que sou gaúcho? Creio que sim pois já fui reconhecido como tal em lugares bem longe do continente de São Pedro. Me reconheço como gaúcho!