Júlio de Castilhos
quarta-feira

22 de janeiro de 2025

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Coluna Para Refletir: O resgate do humano: um benefício da pandemia

Estamos vivendo hoje em ordem mundial um momento de crise muito forte. A presença irradiadora do Coronavírus desestruturou todos os mundos socialmente construídos. O Ser humano, precisa de um mundo socialmente ordenado. O medo volta a tomar conta da sociedade, desequilibrando todos os mecanismos da ordem social voltados para manter o mundo significativamente em pé. As estruturas de plausibilidade se vêm abalados pelo “caos” ,nessa crise global que vivemos temos uma oportunidade única de repensar radicalmente nossas práticas e modos de estar no mundo, quando mais do que nunca o indivíduo como categoria não dá conta dos seres sociais que somos, um tempo propício para a espiritualidade.

A Pandemia tem obrigado as pessoas a ficarem reclusas e isoladas. Nem todos têm esse hábito de recolhimento e solidão. É uma realidade que pode, positivamente, suscitar uma “chispa” de vida espiritual, de entrada no mundo interior e retomada de um caminho distinto para a vida. Um tempo propício para começar a “desintoxicar o nosso modo de vida”, surge a necessidade de maior ênfase para a valorização do ser humano.

Estávamos assistindo ao desdobrar de males altamente virulentos que corroíam as sociedades. Manifestações cruéis de preconceitos, atitudes de agressividade e desrespeito inenarráveis, posturas de desamor, competições mesquinhas. Desprezo aos princípios de boa convivência, mentiras, tudo isso refletindo na macroestrutura social. Com a chegada inesperada da pandemia nos assustando, paramos e refletimos. E forçadamente limitados pelas paredes do lar, nos voltamos agora uns para os outros. Nem castigo, nem aviso ou ameaça. Consequência natural da aplicação da lei de causa e efeito.

De repente, a constatação da fragilidade física, em que a vida de todos se vê ameaçada por um vírus que prenuncia com a interrupção da jornada física, faz pensarem questões como: O que tenho feito da minha vida? Que possibilidade tenho de recuperar o tempo mal utilizado? Como tenho distribuído meu carinho e atenção aos que me cercam? Quais os valores que tenho e podem ser melhor utilizados?

Inesperadamente, temos a certeza de que somos peças importantes na vida do universo e sentimos vibrar em nós a vontade de recuperar o tempo perdido, percebemos que precisamos vivenciar valores como a solidariedade, a justiça, o amor. E diante dos cataclismas físicos ou morais somos abalados pelo convite à vida, pela vontade de nos elevarmos, pela atenção e solidariedade de nossos semelhantes. Assim, nos tornamos mais suaves, mais ternos, tolerantes e amigos. Estaremos então nos primeiros degraus da ascensão espiritual.

Na verdade, a humanidade está aceleradamente distraída, e víamos a vigência do orgulho e do egoísmo em todos os níveis, do individual e do coletivo.

Seja como for, a crise faz parte da evolução dos seres humanos. Em geral, nos livros de história, podemos ver o quanto momentos de dificuldade deixam marcas na trajetória humana. A própria palavra “crise”, por exemplo, guarda isso em sua etimologia (estudo da origem das palavras). Em outras palavras, crise vem do grego krisis, e remete à fundição e purificação, bem como separação, escolha e discernimento.

Se por um lado o distanciamento social de quem mais amamos é um sacrifício, por outro ele também nos chama a passarmos por um processo de ouvirmos mais claramente o chamado de Deus.

Essa voz que está sempre dentro de cada um, nem sempre é discernida. Os ruídos de um dia a dia estressante, cheio de compromissos, com pouco espaço para a reflexão profunda, de fato tornam essa tarefa difícil, muitas vezes.
Se há algo que possamos chamar de benéfico da pandemia é o resgate da dimensão humana na sociedade. O sentido de solidariedade entre as pessoas, a prioridade com a saúde dos colaboradores, a valorização dos profissionais da saúde, transporte e segurança, as ações de ajuda aos necessitados, a busca de forças interiores que a espiritualidade trás, são algumas delas. Qualidades são buscadas por muitos nestes tempos incertos, oriundos de um maior foco na espiritualidade, tais como gratidão, paciência, calma, serenidade, confiança, harmonia, compaixão, amor, desapego, equilíbrio e esperança, qualidades necessárias à nossa vida.

Para além de nossa fragilidade, a pandemia que vivemos nos recorda nossa dependência. Somos seres mutuamente dependentes. Ninguém pode cuidar-se sozinho em uma UTI, sempre se depende de outros, de muitos, de todos. Somos seres criados para a solidariedade..

Que possamos aproveitar essa chance de desenvolvermos a espiritualidade coletivamente e, assim, termos a oportunidade de colhermos um futuro de paz, espiritualidade e fé.

Então, o que podemos fazer agora para plantarmos a semente da fé que colheremos no pós-pandemia?

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