Mais uma polêmica ronda as redes sociais: A série coreana mal-acabada, com atores péssimos, estória sem nexo e com pano de fundo uma violência exagerada e sem sentido, tudo isso ao molho de singelas brincadeiras infantis. Confesso que assisti meio que por obrigação, pois afinal gosto de me manter informado e para poder ter uma opinião é necessário, por vezes, ser sujeito do mau gosto e da escatologia que certas expressões artísticas evocam. Assistir pessoas serem mortas por motivos banais, em um jogo insano, apenas por estarem endividadas é um pesado exercício de tolerância. Round 6 (no original O Jogo da Lula) é uma daqueles seriados que poderiam passar batidos, mas um filme, O Hospedeiro, foi o precursor e fez escola (inclusive levantando estatueta).
A polêmica, então, é sobre crianças assistirem esse besteirol. Duvido muito que crianças que moram em comunidades carentes e com alto índice de criminalidade, mortes, drogas, tráfico, bailes funk, músicas que fazem apologia ao sexo, violência e uso de entorpecentes estejam suscetíveis a Round 6. Vou mais longe: diante da permissividade exagerada dos tempos atuais, a série é um retrato vivo do que toleramos atualmente. Se na atualidade é possível cuspir no próximo, defecar e urinar em bandeiras e fotos, desnudar-se e fazer sexo, ou simulá-lo, em público, por que o filmete chocaria?
Óbvio que muitos pais e familiares ainda tem a preocupação de preservar seus filhos de alguns disparates, mas a “democracia” da informação na rede internacional de computadores oportuniza que todos tenham acesso a tudo, cabendo a vigilância a quem queira fazê-la. Isso que estamos apenas a falar da rede visível pois a Deep Web é um submundo escuro e tenebroso.
Mas para quem ficou curioso em assistir a série vai uma dica: existem outras realizações mais inteligentes e sub-reptícias em suas mensagens: O poço; O cubo; A caixa e outros tantos, melhor produzidos e com interpretações mais dignas. Mas se Round 6 choca, o que dizer de Jogos Vorazes? A trilogia infanto-juvenil é um mata mata no sentido literal. Aliás A caixa é sobre a possibilidade de enriquecer a custa de vidas humanas (traduzido sob forma de experiência social).
Poderia aqui discorrer um sem-número de outros filmes e séries dentro da mesma perspectiva, mas a intenção é de levantar a questão da polêmica. Se esse tipo de conteúdo chega até crianças ou jovens sem maturidade (afinal a série é indicada para expectadores de 16 anos ou mais), alguma coisa está acontecendo (ou melhor: não está acontecendo).
Bateu saudades do tempo que Batatinha 1, 2 ,3 (no meu caso Meia lua 1, 2, 3), Sapata, Cinco Marias, Cabo de Guerra, bolinha de gude (bulita), esconde-esconde eram brincadeiras infantis saudáveis, inocentes e sem os apelos atuais. Afora as novidades e inovações tecnológicas vivemos em um período de pobreza artística. Sugiro prestar atenção em certas letras de algumas músicas que tocam nos celulares e computadores de crianças, jovens, adultos… (mas não esqueçamos das exceções, ou seja, tem muita coisa boa que não ganha espaço na mídia).