Júlio de Castilhos
quarta-feira

22 de janeiro de 2025

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Dentre as inúmeras vantagens de envelhecer, com certeza, a bagagem de conhecimento e a capacidade de contar estórias, sem dúvida são as melhores, as mais esplendorosas. A ficção foi maravilhosa ao estampar um Forrest Gump, simplório e entronado nas suas estórias cotidianas permeadas de muita história.

O fabuloso escritor gaúcho Érico Veríssimo, senhor de uma obra profícua e dono de uma narrativa sem igual, não se considerava um escritor, mas tão somente um “contador de estórias”. Modéstia à parte, Érico sim foi um grande escritor, sem deixar de ser um contador de estórias. O grande poetinha (Mário Quintana) se dizia um narrador da vida (mesmo sendo um poeta formidável). Os trovadores (como Zequinha Silva) ou poetas dos cordéis nordestinos, são todos contadores de estórias. Os avós de antanho eram contadores de estórias, sem igual.

Mas enfim: Contar estória, independente da intenção ou condição, é uma maneira rica de apreciar a vida, narrar experiência, aprendizado, informação e emoção.

No entanto, a despeito das velhas estórias contadas nas rodas de amigos, nas mesas de bares, em reuniões familiares, nos círculos de amizades, junto do fogão à lenha e nas esquinas da vida, a informação imediata, pronta e sem emoção da rede internacional de computadores, criou um novo formato de narrativa.

No contexto do “tudo pronto” um clique resolve a questão. Sem contradição, sem oposição e sem noção. Nada comparável a um Ariano Suassuna, cuja intelectualidade, sobriedade e sabedoria humilde, nunca almejou ser um teatrólogo ou escritor, mesmo sendo um dos maiores contadores de estória desta terra tupiniquim.

Entretanto o “fast food” cultural reduziu e liquidificou uma parcela da arte de contar estória em mero artifício de ler invencionices ou de recontar clássicos sob uma roupagem pobre e rota.

Mas contar estórias, para além da criatividade ou da genialidade, está na capacidade de narrar vivências. E nesse sentido (com o perdão daqueles que tem menos anos de vida) os mais experimentados têm mais coisa para contar. Com certo saudosismo lembro da Vó Anastácia, da Vovó Benta ou do Jeca Tatu, cujas estórias iam para além da imaginação.

Talvez no mundo da informação farta estejamos vivendo uma crise de imaginação ou de inventividade, que são o lastro das estórias. Não quero dizer que toda estória seja ficção, mas ela se nutre do que se vive e do que se cria.

Mas enfim, fico lisonjeado toda vez que um aluno (sobretudo um adolescente) diz que em minhas aulas eu conto muitas estórias (todas contextualizadas). De outra feita um disse: “Mas o professor tem uma estória para cada conteúdo”. Singelamente respondi: “É que eu vivi muito e bem.” Quem me dera fosse um contador de estória, de fato. Por enquanto apenas sigo o que a sabedoria popular consagra: “Quem conta um conto, aumenta um ponto”!

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