Gostaria de informar a todos que eu leio o SEMANÁRIO REGIONAL na íntegra. De ponta a ponta. Nada me escapa, nem os eventos, nem as piadas, nem a página da câmara de vereadores ou as notícias da página 7. Sou um leitor nato, por assim dizer.
Lembro quando tinha 15, 16, 17 anos e podia ler livros indiscriminadamente. Noites em claro na companhia de Dostoiévski, Kafka, Bukowski (note a minha queda por autores russos), ou ainda Fernando Pessoa, Luiz Fernando Veríssimo ou Moacyr Scliar.
Scliar dizia que “a escrita é uma sequela da leitura”. Sempre observei o mundo lendo, mais que só olhando. Não basta ver a pessoa, preciso ler o que está escrito na sua camiseta – e normalmente esse ato é acompanhado de constrangimento.
Não aceito bem a falta de curiosidade – diferente da ignorância, que aprendi a conviver. Já vi coisas bizarras em camisetas, mas nada supera uma amiga que tatuou “figth” quando o correto é “fight”.
Quero deixar clara a minha limitação linguística, que vai de um inglês truncado para um espanhol improvisado que mais faz graça que comunica aos amigos castelhanos. Porém, sei a mensagem que passo.
Tenho um amigo alemão, o Martin, que fez intercâmbio no Brasil há uns 10 anos. Conclusão: o português esvaiu-se e só nos comunicamos em inglês. Uma ligação há cada 2 anos, na média, e ele diz que cada vez estou pior. Ainda tem a patifaria de pedir que não estude, pois fica rindo dias lembrando das minhas improvisações.
Tenho uma história curiosa de como desenvolvi meu inglês. Faz uns 10 anos. Estava em Florianópolis, trabalhando no Donna, que fica em Jurerê Internacional. Jovem e cheio de energia, trabalhava no que eles chamam de “cumim”, que é o cara que corre pra lá e pra cá repondo gelo, bebidas e demais insumos.
Quem ganhava melhor, obviamente, eram os garçons de pista e os barmen. O segundo me chamava mais a atenção.
Foi quando um dia, o gerente grita na cozinha. – Quem sabe falar inglês?! Silêncio absoluto. – Ninguém sabe nem o básico?!
Foi quando, sem nem perceber, minha mão estava levantada. – É sério? Disse o gerente, me olhando incrédulo, enquanto todos olharam para traz e viam o pobre cumim acanhado balançando a cabeça positivamente. – Então pega esse uniforme, te arruma e vem aqui pra frente.
A história foi a seguinte: a mãe de um dos barmen faleceu e avisaram no meio do expediente. O bar recebia gente do mundo inteiro e o gerente ficou sem opção, nem testou pra saber se eu falava mesmo o tal do inglês. – Ajuda o Maurício e faz o que ele mandar. (e foi embora).
O Maurício era barmen mesmo. Durante o ano, trabalhava em cruzeiros e no verão, no Donna. Perdi o contato, infelizmente, mas lembro que ele tinha um hábito peculiar: traduzir camisetas. A questão é que ali fiquei, muito porque levo jeito para drinks e, modéstia a parte, sempre tive facilidade quando o assunto envolve culinária ou álcool.
Mas e o inglês? Bom, o meu básico se resumia a “yes”, “no” e olhar para o Maurício. Mas como disse, sempre fui curioso. Fosse em casa ou no intervalo, sempre estava decorando frases para melhor atender as pessoas e, consequentemente, ganhar mais gorjetas. Cheguei a ganhar R$450 em uma noite, isso em 2012.
Depois de um tempo, menos de um mês, notei que já falava ao natural. Encontrava os clientes no fumódromo ou nos intervalos e rolava muito papo e risadas (em “inglês”), muito graças ao meus erros (os mesmos que causam graça ao Martin). O antigo barmen nunca mais retornou e ali fiquei por 3 meses, até o final do verão, recebendo um bom dinheiro para embebedar gringo e praticar o meu inglês.