Júlio de Castilhos
quarta-feira

22 de janeiro de 2025

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Na manhã de um domingo, 14 de fevereiro de 1999, há 23 anos, meu amigo Tirso nos deixou, depois de uma longa e insidiosa doença.

Mas, se é verdade que ele partiu mais verdade ainda é que ficou nas imagens tão fáceis de lembrar e tão difíceis de esquecer. Na saudade indefinida pelo contorno precário das palavras:

A imagem do homem alto, de casaco curto e rasgado. De suas grandes mãos, segurando a inseparável pasta negra recheada de originais, de fotografias, de notas da Pallotti, de recibos e de esperanças. A imagem do sorriso perene, dos olhos vivos de policial que voltou à paz da vida buscando somente as notícias para sua cidade e a felicidade para sua família. A imagem do policial generoso tirando do bolso da calça o dinheiro para os amigos que ele prendia e que o amavam.

A imagem do homem de japona herdada do meu pai, bafejando nas frias manhãs ao redor da Praça ou no saguão dos bancos. A imagem que guardo, em sua casa: do homem de bombacha e chinelos, mangas arregaçadas, lavando louças e panelas. A bacia fumegante em cima do fogão a lenha. Terapia que ele fez enquanto pode e não abandonava apesar dos protestos da esposa.

A imagem do homem batendo máquina no porão-escritório de sua casa, que ele chamava de “meu tugúrio”. Rodeado de pilhas e pilhas de jornais, revistas e originais amontoados no chão. Era o seu arquivo implacável que ele buscava olhando para baixo.

E, para mim, a imagem mais doída: do amigo, quase irmão, descendo a escada de nossa casa. Nos últimos degraus, sorridente, a mão levantada, despedindo para o chimarrão do dia seguinte. Parafrasiando o Jo Soares –“Tirso 11 e Meia”, todos os dias.

“Tirso, quem sabe tu usas um papel-jornal, mais barato”. Não doutor, aí perde a qualidade. “Tirso, tu tens que cobrar as assinaturas e avisar quando terminam”. Não doutor, quem assina deve pagar e saber quando termina. “Tirso, tu tens que cobrar os anúncios, antes”. Não doutor, primeiro se entrega a mercadoria, depois se cobra! “Tirso, os teus princípios vão causar o teu fim!” Aí vinha a sonora gargalhada que eu enxergo e ouço ainda depois de tanto tempo.

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