Ao cumprimentar as pessoas com as quais me encontro, especialmente as que tenho mais proximidade, costumo fazer essa saudação em forma de pergunta. Como vai você? Há implícito nela uma série de possibilidades interpretativas, como em tudo na vida. Podemos achar que há um tom de brincadeira bem humorada, plagiando a letra de uma celebre canção de Roberto Carlos; podemos entender como um interesse real em saber se a pessoa está bem; e podem entender, os mais cítricos, como uma certa intromissão, afinal, porque quer saber como estou? Mas, no meu caso, pretendo expressar empatia. Ao questionar: como vai você, quero ir além do “tudo bem?” e dar uma deixa para que meu interlocutor fale de si, da sua vida… E, no fundo, espero que ele esteja bem, de verdade. O que convenhamos, não é muito comum em nossos dias, onde a maioria de nós vive em crise, de diversas maneiras: existencial, social, familiar, profissional, financeira ou até mesmo de identidade.
Mas afinal, como vai você? Sei que a resposta não é simples. Quando pensarmos em responder essa pergunta teremos que fazer um autoquestionamento, uma autorreflexão. Como vamos? Como estamos? O que estamos fazendo da nossa vida? Estamos bem? E se hoje fosse o nosso último dia de vida, o que gostaríamos de estar fazendo? Conscientes de nossa finitude humana, chegamos à conclusão de que quase tudo, todas as expectativas internas, todo o orgulho, todo o medo de falhar, todas essas coisas vão sumir na hora da morte, deixando apenas o que for verdadeiramente importante. Então, é inútil pensar que temos alguma coisa a perder. Na verdade, estamos praticamente nus, na hora derradeira tudo que é material não significará nada e ficará apenas o que fizemos sentir (o imaterial). Seremos uma lembrança, boa ou não tão boa, para aqueles que sobreviverão a nós. Assim, estar bem talvez seja seguir o nosso coração. Quando encontramos o nosso ‘eu interior’ podemos fazer a ele qualquer pergunta que desejarmos no mundo, mas simplesmente podemos perguntar a nós mesmos: como vai você?”. No centro de cada um de nós, talvez esta seja a pergunta mais básica e verdadeira. Ela nos leva a questionamentos internos que vão melhorar a forma como nós nos vemos a cada dia. Reprogramar, redimensionar, perceber que o muito pode ser nada, e o pouco pode ser o essencial. Se não vamos bem, deixando de viver de forma verdadeira, estamos cometendo o maior dos desperdícios, o tempo não para e não volta. Ele é a própria vida. E então: como vamos nós? Na teoria, parece simples. Mas criar o hábito de fazer autorreflexões constantes requer disciplina. Muitas pessoas preferem pular essa etapa na vida, evitando esse questionamento interior. Mas é possível transformar essa tarefa em algo menos árduo e que venha em nosso favor.
Ao responder essa pergunta, “como vai você?” Podemos dizer: estou bem, mal, péssimo, esperançoso, produtivo, alienado, etc. Contudo, importa mesmo é que ao pensar na resposta estaremos vivendo “a pergunta” e nos autoanalisando e dessa reflexão poderá vir ótimas respostas, ainda que nem cheguemos a dizê-las ao nosso interlocutor. Perguntas descortinam um universo de possibilidades. Importa pensarmos em como estamos vivendo. Vivemos a nossa vida ou a dos outros? Queremos nos comparar, competir e superar. Ostentamos o que não podemos manter, porque outros assim o fazem, numa realidade diferente da nossa. Vivemos cuidando da vida alheia esquecendo que muitas vezes a nossa pode estar pedindo atenção, organização, dedicação e cuidado. É fundamental nos questionarmos e perseguir um ideal de um dia poder dizer que sim: vamos bem. Isto por estarmos vivendo a nossa vida da melhor forma possível, sendo autênticos e verdadeiros, em primeiro lugar, a nós mesmos…
Bom seria que a maioria de nós pudéssemos responder a essa forma de cumprimentar questionando, e dizer: vou bem, vivo de forma plena, eu me aceito, aceito ao outro, e acima de tudo eu o respeito. Não sou dono da verdade, mas tenho meus princípios e valores. Sou um, que junto a muitos, compõe o todo, tenho noção de ser parte de um universo, e nele ter a minha função e o meu papel. E assim, sim: eu vou bem!