Somos uma geração que não sabe lidar com o acesso e o excesso de informação ao qual fomos “jogados” e do qual não podemos escapar. Dele decorrem as cobranças: de ser sempre melhor, estar lindo, jovem e feliz o tempo todo; ter a família perfeita, o melhor trabalho de todos, mais renda e que tudo isso é, ao fim e ao cabo, nos trará a felicidade. Ledo engano. Estamos é ficando esgotados, fúteis e superficiais. Não sabemos mais contemplar o belo, e isso é fundamental, porque somos humanos.
A ideia que se tem que fazer tudo ao tempo todo, e de que múltiplas tarefas é que nos darão os melhores resultados está demonstrada na expressão que muitos usam: “não se deve deixar todos os ovos na mesma cesta.” E assim seguimos em direção ao túmulo, correndo, estressados e dispersos, “secando” aos poucos os sentimentos que nos são próprios, pois ainda somos humanos. Automatizados e explorados, muitas vezes sem nem mesmo nos dar conta, bradamos que o universo conspira a nosso favor e que tudo podemos, desde que tenhamos “positividade”. Mas, para que queremos obter esse tudo, o que com eles faremos?
Nas reuniões familiares e mesmo no convívio diário não é raro se ver parentes e amigos de “corpo presente”, contudo, sem diálogo ou qualquer demonstração de interesse naqueles que estão ao redor. Isto é, até certo ponto, esperado, pois estamos “seduzidos” pelo extraordinário apelo das tecnologias. Essa é uma violência sutil, e por isso muito avassaladora. A violência do silêncio, do isolamento, da indiferença; de um jeito de viver no mundo contemporâneo: vazio e sem sentido.
Tudo isso está levando a humanidade para além das doenças virais, às patologias chamadas neurais, como a depressão e a síndrome do pânico, dentre outras, o que marca o limiar do século XXI.
No dizer do filósofo sul coreano, Byung-Chul HAN, as características do modo de viver competitivo e conectado dos dias atuais, caracteriza o que ele chama de “sociedade do cansaço”, que por sinal é título deu seu livro no qual baseamos este escrito.
Estamos cansados, física e mentalmente, sim; mas, sobretudo estamos cansados do modelo social atual, e perdendo o interesse por tudo, do ponto de vista das emoções, passando a existir uma banalização do cotidiano, que transcendendo ao interesse pelo outro passa a ser focado na pressa, no produzir mais e mais, no ter sobre o ser, enfim, na coisificação humana.
Estamos nos automatizando a cada dia, numa sociedade que nos faz “pensar positivo” e nos dita que temos que ser alegres e superficiais e que tudo ficará bem e conquistaremos o universo. Mas, e daí, para quê? Parece que a sociedade atual está caminhando para o cansaço, a fadiga, o esgotamento, de si mesma, pelo modelo que vive.
Talvez seja necessário nos voltarmos para o belo, para a contemplação, para momentos de muitos “nadas”, que, por ser da nossa essência humana, passariam significar “tudo”. Será que do jeito que está dá para continuar? Não estaria a sociedade caminhando para o abismo do cansaço e da indiferença?
É de se pensar…