Ultra aequinoxialem non peccari (Não existe pecado ao Sul do Equador) é uma crença europeia do século XVII, citada pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda que consistia em dizer que quem residia no Hemisfério Sul não pecava. Chico Buarque, filho de Sérgio, consagrou a crença em música: “Não existe pecado do lado de baixo do Equador. Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a todo vapor. Me deixa ser teu escracho, capacho, teu cacho, um riacho de amor. Quando é lição de esculacho, olha aí, sai de baixo, que eu sou professor.” Óbvio que a música de 1973 é uma ironia à liberalidade no carnaval, ou seja, durante o entrudo pode tudo. Depois do carnaval, tudo normal. Mas em tempos atuais é necessário o carnaval para se “liberar tudo?”
A doutrina católica consagrou os Dez Mandamentos e institui os Sete Pecados Capitais. São eles: A soberba; a avareza; a inveja; a ira; a luxúria; a gula e a preguiça. Os pecados capitais estão associados aos pecados, pois são considerados a origem e raiz das atitudes pecaminosas. A luxúria é o pecado associado aos desejos sexuais. Para os católicos, a luxúria tem a ver com o abuso do sexo ou a busca excessiva do prazer sexual. Se observarmos com atenção veremos que em nossos dias há uma busca desenfreada pelo sexo e pelo prazer. Sem ser pudico ou retrógado (tampouco angelical), é possível afirmar que o sexo, mais do que nunca, é usado em peças de anúncio de produtos e venda de serviços e mercadorias (ou seja, sexo implícito).
No plano jurídico é crime não aceitar uma pessoa pelas suas escolhas ou posturas sexuais, mesmo que essa postura seja extrema (será que alguém ainda é condenado por atentado ao pudor já que a nudez e a exibição da genitália não chocam e são tolerados?).
Hoje em dia talvez a pedofilia ainda seja um dos poucos atos inadmissíveis, embora já haja políticos e grupos que queiram naturalizá-los. Inclusive há boatos de que a união entre familiares tem defensores entre alguns parlamentares. Mas o sexo (ou sensualização) é recorrente nas roupas, nas manifestações artísticas (obras de arte, música, filmes, etc) e até mesmo as crianças são levadas a sensualizar em danças e gestos, com o beneplácito de pais, responsáveis e sociedade em geral. E o que dizer dos vídeos de divulgação de alguns artistas? Para a “artista” que tatuou o ânus, cujo vídeo lhe garantia dinheiro por cada acesso, nenhuma surpresa, pois para além do sexo o conteúdo escatológico e de mau gosto parece já ter se incorporado à cultura nacional. Há, inclusive, serviços voltados para a obtenção do prazer sem limites (falo de profissionais sérios, diplomados e legais).
E o que dizer da pornografia? Bom, melhor nem comentar. Mas enfim, se alguém acredita, como eu, de que a “coisa” não tem mais jeito e o “pode tudo” é palavra de ordem, está decretada a falência da luxúria como cerne de um pecado. Com humildade, sugiro que esse dogma seja revisto, afinal seria igual ao ditado: “Lei para inglês ver!” Se não há luxúria, não há pecado. E ponto final! C’est fini!