Dentro do universo da finitude e, sobretudo, dentro da concepção vigente da obsolescência biológica, tudo tem um prazo de validade. Embora nos olvidemos vez por outra, não aceitamos que também somos finitos e haveremos de acabar. É claro que cada crença, cada credo religioso, cada percepção de mundo nos faz projetar um futuro a perder de vista. Assim é que a vida, tal e qual a vemos e sentimos, deve e pode ser vivida em sua essência e plenitude.
Mas pairando sobre coisas mais palpáveis e factíveis, a vida, e sobretudo aquilo que permeia a existência, é uma opinião vazia de algo bem maior que meros sessenta, setenta, oitenta ou noventa anos terrenos. Vejam o momento atual de nosso país: ele é menos que um piscar de olhos na dimensão da história do universo. Assim, é de se pensar que as soluções miraculosas, as resoluções oportunistas e, sobretudo, os remédios sem bula, soam como a formiga que foi responsável pela Deriva Continental.
Nesse passo, pezinho no chão e chá de camomila é de bom tom. Somos passageiros (em sentido literal e figurado), por isso prudência, serenidade e responsabilidade são quesitos essenciais no bom viver. Não é questão de viver o hoje como se não houvesse o amanhã, mas de viver satisfatoriamente hoje sem desdenhar que pode ter um amanhã (senso de previdência).
Em uma atualidade hedonista e consumista, além de imediatista, as opiniões definitivas são um risco. Acolher o novo é sempre bem-vindo e não desprezar o velho é sabedoria. Como dizia Paulo Freire ao se referir ao que ele chamava de “consciência crítica”, não devemos repelir o velho por ser velho, tampouco aceitar o novo por ser novo, mas aceitá-los na medida em que são válidos. Assim é que toda a transformação positiva nos conduz a um caminho de mais conhecimento e sapiência.
Nessa efêmera passagem a humanidade pode construir legados que serão transmitidos para as gerações futuras, sempre na perspectiva de avanço. O contrário faz com que as coisas (e sobretudos os erros e falhas) se repitam. No auge desta trajetória temo pelo que convencionei chamar de geração “Ctrl C – Ctrl V” que infelizmente não respeita idade. Ctrl C e Ctrl V são recursos de copiar e colar em alguns editores de texto digitais. O recurso, em si, é extremamente útil pois poupa tempo e trabalho, mas quando usado de forma indiscriminada ou desregrada limita a capacidade de formar juízo próprio de algo ou de se ousar em formular um conceito mais adequado à circunstância. Mas creio que embora não sejamos seculares, temos um prazo razoável para elaborar pensamentos, críticas e idiossincrasia, só não dá para deitar na rede do tempo e cochilar a tarde inteira e, ao acordar, “copiar e colar”.