Júlio de Castilhos
quinta-feira

23 de janeiro de 2025

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Preso na rodoviária

Em junho de 2012, talvez no inverno mais pesado que já estive, fiz um mochilão para Buenos Aires. Naquele tempo, parafraseando a coluna ao lado, era um jovem de 20 e poucos anos que só queria uma aventura.

Na beira da estrada, consegui uma carona com uma mulher mais velha até Rivera. Depois, peguei um ônibus até Tacuarembó. De lá, fui de trem até Montevideo, que é o palco da nossa história.

Cheguei em Montevideo no dia em que a empresa aérea uruguaia, Pluna, decretou falência. Foi uma falência sem aviso prévio, que pegou todos de surpresa.

A Pluna fazia vôos de hora em hora para Buenos Aires a 50 dólares. Sem isso, centenas, até milhares de pessoas ficaram presas no Uruguai naquela sexta-feira a noite. A única passagem, de uma outra empresa, saía por 500 dólares!

Tudo que consegui foi uma passagem de Buquebus. Que é um ônibus que vai até Colônia del Sacramiento e, de lá, você pega um navio até Buenos Aires. mas somente depois de 3 dias!

Eu não conhecia ninguém no Uruguai e tinha que ficar lá todo final de semana com 2 mil reais no bolso. O que na época era muito dinheiro, visto que um Mc Lanche Feliz custava o equivalente a 8 reais, quando no Brasil era mais que o dobro.

O problema era que não tinha vaga em hotel. Pedia para me alugarem um sofá e a resposta era que até os sofás já estavam alugados.

Foi aí que tive uma idéia.

Mandei um depoimento no Orkut para a minha amiga Cássia, que tinha feito intercâmbio na capital uruguaia que era mais ou menos assim:

“Cássia, estou em Montevideo, (~todos os problemas citados acima~). Tu não conhece alguém que possa me abrigar? Estou vestido com uma toca de lã, vermelho vinho, com um mochilão preto e verde e com uma jaqueta verde. Estarei deitado no corredor 4 da rodoviária.”

A rodoviária, diga-se em pronto, parecia um formigueiro de tanta gente. Ao passar da noite, todos aqueles que, como eu, não haviam conseguido hotel, deitaram em fileiras nos corredores.

Algumas horas depois, alguém bate no meu peito e fala:

¿eres Vinicius? Era o Fred, amigo da Cássia, que tinha visto o meu depoimento e avisado o amigo. Já fomos direto para um “esquenta” na casa do Diego. Foram 3 dias de muita festa e diversões em geral. Chegando na segunda, entrei no tal Buquebus com destino a Buenos Aires. Chegando no porto de Colônia del Sacramiento, acreditando que o pior já havia passado. Fui embarcar no navio quando a host estendeu a mão e me pediu gentilmente:

green card por favor? Olhei sério pra ela e respondi. – Quê?! Nem sabia o que era green card! E pra quem não sabe, é uma espécie de “passe” para você circular pelo mercosul de forma legalizada. É bem mais que isso, mas o resumo é esse. Fiquei quase uma hora, entre as 15 pessoas chamadas, tentarem entender como cheguei até lá sem um green card, para no final a host simplesmente tirar um da gaveta, colocar meus dados e me liberar.

Finalmente estava em um navio rumo a Buenos Aires! Obviamente estava na classe econômica que claramente não era a prova de brasileiro. Um murinho de ferro que pulei em dois segundos para ir até o meu destino desfrutando do melhor da primeira classe.

Na chegada, lá estavam os meus amigos Marco e Leo. Foram 22 dias desfrutando da capital argentina. Conheci os maiores bairros, fui nas festas mais estranhas que você pode imaginar (Léo, meu amigo, é professor na Escuela de Bellas Artes de Bs As), fiz novos amigos e comi muito mal. A comida brasileira é a melhor do mundo! Depois voltei pelo Paraguai. E esse foi o resumo do meu mochilão que durou perto de 30 dias. Amo a minha vida, mas sempre vou lembrar com carinho dessas histórias que passei.

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