Júlio de Castilhos
quarta-feira

22 de janeiro de 2025

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Envelhecimento: um direito personalíssimo

O intuito aqui é refletir brevemente sobre possíveis transformações decorrentes do avanço da idade que possam auxiliar na compreensão do que vem a ser uma pessoa idosa em nossa sociedade, de algumas consequências do envelhecimento e a da vivência da velhice em si, visões que podem influenciar na elaboração das políticas públicas para essa população, em particular influenciar o desenvolvimento do Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para pessoas com Deficiência e Idosas. Inicialmente, pensar o envelhecimento remete a considerá-lo um direito personalíssimo, ou seja, intransferível, pertencente ao indivíduo na sua singularidade e também como um processo natural, próprio das transformações biológicas, no dia a dia do próprio organismo, relacionadas aos ciclos de vida, como escreveu Simone de Beauvoir, em seu livro A velhice: “morrer prematuramente ou envelhecer: não existe outra alternativa”.

Assim, como toda etapa do ciclo de vida, a velhice caracteriza-se e como um processo de crescimento, com perdas e ganhos, com possibilidades de aprendizado, crises e mudanças. As perdas e ganhos não são vivenciados apenas em seu corpo, mas nas relações familiares e sociais e influenciam a maneira como cada um se relaciona consigo mesmo, o modo como se percebe e os significados que atribui à fase em se encontra ( MDS,2012). Estar em uma fase economicamente ativa ou não, por exemplo, pode dizer muito sobre uma pessoa idosa e sobre as expectativas sociais sobre ela, em uma sociedade que tem o mundo do trabalho na centralidade de sua organização. Assim, pode-se afirmar que embora cada um viva a velhice de forma singular, os significados vivenciados na trajetória do envelhecimento tem forte influência do lugar atribuído à pessoa idosa na sociedade ou mesmo no micro território onde vive.

A partir do olhar sobre o lugar social atribuído a pessoa idosa, pode-se observar que, escritores, pesquisadores, artistas, filósofos, legisladores, bem como poetas e poetizas produzem e reproduzem, ao longo da história, ideias sobre o sentido do envelhecimento, construindo sobre a velhice definições, cronologia, imagens e representações que revelam questões específicas das sociedades em que as pessoas idosas vivem.

A velhice, portanto, não pode ser vista pelo Serviço como um fenômeno homogêneo, estático, uma vez que cada pessoa vivencia esse ciclo de vida de uma forma, considerando sua trajetória particular e as condições econômicas, de saúde, educação e, ainda, gênero, etnia, contexto familiar e territorial a ela relacionados. Também deve-se considerar o que diz Beauvoir (1990), já que, como todas as situações humanas, a velhice tem uma dimensão existencial: modifica a relação do indivíduo com o tempo e, portanto, sua relação com o mundo e com sua própria história.

Sob qualquer prisma, é importante reconhecer a complexidade dessa fase do desenvolvimento humano e suas várias maneiras de vivenciá-la. Algumas pessoas envelhecem saudáveis e têm mais energia que pessoas consideradas jovens. Outras, mesmo expostas a condições desfavoráveis, saem delas fortalecidas. Portanto, toda pessoa tem uma história única, construída cotidianamente, no seu percurso de vida.

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